Uma máquina de porco

Como saber se um jogo de terror é bem feito? Certamente não pelo tamanho das texturas ou pela qualidade dos modelos tridimensionais, caso contrário, Resident Evil 6 seria uma obra-prima.

Uma máquina de porco
Um porco pendurado em um crucifixo. Um pouco blasfemo. Apenas um pouco

Vamos colocar desta forma: se durante o jogo você se pegar andando agachado, tentando não fazer barulho, mesmo que não conheça realmente os efeitos do ruído sobre seus inimigos, se der um gole a cada passo olhando em cada esquina antes de se mover , se preferir caminhar para a escuridão por medo de que a luz atraia alguma criatura, mesmo que não se diga que existem criaturas ao redor, se cada novo lugar a cruzar provoca uma angústia inexprimível, uma sensação de opressão que pode se tornar tão forte que te força a desistir dos controles por alguns momentos, se você passar muito tempo parado nas sombras sem ser capaz de dar um passo depois de ouvir um barulho sinistro vindo sabe-se lá de onde, se em cada refúgio seguro você respira um profundo suspiro de alívio, como se você fosse um deus, sobreviventes de um naufrágio; enfim, se todas, ou mesmo algumas, das situações descritas acima ocorrerem, então há uma chance muito boa de você se encontrar diante de uma obra que está cumprindo o que promete: ser assustador. Amnésia: A Machine for Pigs é uma máquina de terror perfeita. O novo título de Frictional Games e The Chinese Room (Dear Esther) recomeça exatamente onde paramos a primeira Amnésia, ou seja, do escuro, nunca tão negro e angustiante, e do desejo de afirmar todas aquelas qualidades que tanto enfeitiçaram milhares de jogadores. Não estamos falando sobre o enredo, completamente diferente daquele de The Dark Descent, mas sobre uma concepção real de terror que fez a escola, trazendo o gênero de volta às raízes do horror de sobrevivência ao tirar proveito da primeira pessoa.





A alternativa

Nunca como neste período existem alternativas válidas para os amantes dos jogos de terror no PC. Limitamo-nos a relatar três casos bem recentes. O primeiro é o Survival Outlast, lançado poucos dias antes de A Machine for Pigs e certamente vale a pena tentar, ainda que menos refinado que o título de The Chinese Room. A mecânica do jogo é muito semelhante, com um protagonista indefeso que deve sobreviver sendo caçado dentro de um asilo. O segundo título é a aventura exploratória Gone Home, uma experiência curta e intensa que obteve muitos elogios em todo o mundo. Finalmente, também lançamos Slender: The Arrival, que não gostamos muito, mas que certamente é indicativo de uma tendência muito difundida no gênero de terror contemporâneo.

Tons de preto

Como no episódio anterior, a trama começa com amnésia. O protagonista, um rico burguês que vive na Inglaterra vitoriana, acorda em uma espécie de jaula em meio a uma forte vertigem. Depois de se recuperar, libertado, não está claro por quem, ele sai em busca de seus filhos, que desapareceram sabe-se lá onde. É noite e a imensa mansão em que vive parece possuída por forças além da compreensão humana. Não se preocupe, não entraremos em muitos detalhes sobre a história, pois é um dos pontos fortes do jogo. Paradoxalmente, não podemos nem falar muito sobre as primeiras horas da aventura, para não dar informações que corram o risco de arruiná-las. Só saiba que logo fica claro que há algo indizível por trás do desaparecimento das crianças e que o protagonista se verá preso dentro de uma imensa alegoria que ele mesmo ajudou a criar. Saiba também que os autores seguiram perfeitamente a lição de Lovecraft, explicando apenas parcialmente o que acontece e deixando o sobrenatural em outro plano, como se os limites humanos impedissem a compreensão do que está além do plano racional. A história em si é contada por meios muito clássicos: desde pedaços de papel deixados por vários personagens, nunca presentes na cena, a gramofones nos quais são gravados pequenos diálogos, até micro-sequências que são acionadas em determinados momentos, em que o protagonista ouve vozes que o lembram de eventos passados. É interessante o uso do telefone, por meio do qual falamos com um personagem cuja identidade só será descoberta muito mais tarde na aventura (quando alguns pacotes de fraldas tiverem sido consumidos). Mais do que o que aconteceu em The Dark Descent, em A Machine for Pigs o cenário passa a ser um elemento ativo da narrativa. A construção dos vários lugares e a progressão com que se penetra nos mistérios que escondem são administradas com muito mais sabedoria do que a do primeiro capítulo, assim como seu impacto metafórico na economia geral do jogo é muito mais forte.



Uma máquina de porco
A atmosfera é decididamente sombria

Vamos explicar melhor. O castelo Dark Descent era, na verdade, apenas um castelo: bem desenhado, cheio de lugares interessantes, mas basicamente uma cenografia. Para uma máquina para porcos é diferente. Sem revelar muito, podemos afirmar que os lugares individuais fazem parte de uma imensa construção alegórica, que serve não apenas de cenário, mas que também tenta contar um modelo de sociedade e a mente desviante de seu arquiteto. Afinal, nada mais poderíamos esperar do pai da Querida Esther, Dan Pinchbeck, já que seu primeiro trabalho foi antes de tudo uma história ambiental, uma longa caminhada na depressão de um ser humano esculpido em lugares, antes nos textos.

Amnesia: A Machine for Pigs coloca a tensão no centro de sua jogabilidade e de nossa análise

Escuridão em escuridão

Uma máquina de porco
Alguns lugares estão cheios de pinturas e desenhos assustadores

Do ponto de vista da jogabilidade, porém, a relação com o antecessor é muito forte, tanto que podemos falar mais sobre alguns ajustes do que mudanças reais. Como aquele em The Dark Descent, o protagonista de A Machine for Pigs também está essencialmente indefeso diante do mal. Ao longo do jogo não existem armas utilizáveis ​​e limitamo-nos a segurar uma lanterna elétrica, que ao contrário da de óleo do primeiro episódio não precisa de recargas para funcionar. A capacidade de agarrar objetos e carregá-los enquanto os segura, essencial para resolver quebra-cabeças, permaneceu inalterada. Não faltam alavancas e máquinas estranhas para ativar, gavetas para abrir e assim por diante. Na verdade, nunca existem puzzles demasiado complexos para resolver e a maior dificuldade é não ser morto pelos inimigos (o que não vos descrevemos para não revelar alguns detalhes relevantes da trama). Por falar no impacto gráfico, para além das questões temáticas, é fácil perceber que a cor dominante é o preto. As poucas fontes de luz presentes geralmente emitem uma luz fraca que mal delineia os lugares onde você está. Mesmo ao caminhar ao ar livre, a atmosfera permanece sombria e opressiva. Atenção, porque não é apenas uma peculiaridade estilística. A presença da escuridão absoluta obriga a puxar a lanterna para obter luz e examinar os cenários, uma pena que a luz atrai as criaturas que infestam as áreas como o dinheiro atrai políticos. Então, imagine-se agachado nas sombras e se escondendo atrás de uma caixa.



Uma máquina de porco
Os textos escritos são o primeiro vetor de informação para entender o enredo

Há apenas uma imensa escuridão à sua frente na qual você não pode ver nada. Seus instintos gostariam que você pegasse sua lanterna para iluminar o caminho, mas o som crescente de passos não humanos ao redor de seu esconderijo o aterroriza: e se fazendo isso eu atrair minha morte? Aqui, talvez Amnésia: uma máquina para porcos seja contada melhor em tais situações, do que na mera listagem de suas características. Mesmo o lado tecnológico, portanto, ao invés de exibir um poder que não tem (não é muito melhor que o de The Dark Descent), escolhe o caminho da funcionalidade e eficácia narrativa, ou seja, está voltado para as necessidades da história. Como também é o caso da banda sonora, feita sobretudo de ruídos e sons muito pronunciados, como os das máquinas em funcionamento, por vezes utilizados para encobrir os sons dos inimigos e criar uma tensão ainda mais acentuada. A música, presente em algumas situações, é sempre usada para enfatizar momentos particulares e nunca encobre a ação. Acima de tudo, nunca se torna preponderante, sinal de uma certa habilidade composicional que leva em conta todos os elementos que compõem um videogame e não apenas o seu.

Requisitos de sistema do PC

Configuração de teste

  • A equipe editorial usa o Computador Pessoal ASUS CG8250
  • Processore Intel Core i7-3770K a 3.50 GHz
  • 16 GB de RAM
  • Placa de vídeo NVIDIA GeForce GTX680

Requisitos mínimos

  • Sistema operacional: Windows Vista / 7/8
  • Processador: CPU Intel Core i3 / AMD A6 de última geração ou equivalente.
  • RAM: 1 GB
  • Placa de vídeo: placa de vídeo de gama média NVIDIA GeForce 200 / AMD Radeon HD 5000. Placa de vídeo integrada Intel HD utilizável, mas não suportada, problemas frequentemente resolvidos por meio de atualizações de driver.
  • Espaço em disco: 5 GB
  • DirectX: 9.0c

Requisitos recomendados

  • Processador: CPU Intel Core i5 / AMD FX de última geração ou equivalente.
  • RAM: 4 GB
  • Placa de vídeo: placa de vídeo high-end NVIDIA GeForce 400 / AMD Radeon HD 6000. Placa de vídeo integrada Intel HD utilizável, mas não suportada, problemas geralmente resolvidos por atualizações de driver.

Commento

Resources4Gaming.com

9.1

Leitores (80)

7.9

Seu voto

Amnesia: A Machine for Pigs cumpre o que promete: criar uma tensão inacreditável. Não difere muito de seu antecessor em termos de mecânica de jogo. Na verdade, podemos dizer que os desenvolvedores prestaram muito pouca atenção em alterá-los e preferiram simplesmente retocá-los, distribuindo alguns elementos de forma diferente. Isso não muda o fato de você estar grudado na aventura do início ao fim, experimentando uma mistura de sensações incríveis. A tensão é muito alta desde o início e continua alta até na final. Os quebra-cabeças, todos de natureza mecânica, estão bem ligados ao contexto narrativo. Talvez eles sejam um pouco mais simples do que os de The Dark Descent, mas você não os percebe tão ocupados quanto está olhando para as sombras. Certamente nos deparamos com um trabalho de alto nível que deve ser jogado absolutamente se você ama o terror, apesar do fato de que nos últimos anos a competição se tornou mais implacável. Além disso, o preço de compra é muito acessível (estamos a falar de apenas € 15,99). Bem, o que você ainda está fazendo aqui? Você não entendeu que não há desculpa para não comprar?

PROFISSIONAL

  • Atmosfera excepcional
  • O cenário é construído com muita sabedoria
  • Ótimo uso de sons
CONTRA
  • A mecânica do jogo é de fato a mesma do episódio anterior
  • Algum colapso de taxas de quadros em algumas situações
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